‘50 Tons de Cinza’: guia sexual para fãs de ‘Crepúsculo’

Livro que nasceu como a homenagem de uma leitora à saga vampiresca vem deixando mais soltinhos admiradores do insosso namoro de Bella e Edward


As cenas de sexo são tão detalhadas e intensas que é difícil acreditar que Cinquenta Tons de Cinza tenha nascido de uma releitura de Crepúsculo, a puritana saga da mórmon Stephenie Meyer. Ainda que tenha recebido o aposto de “pornô papai-e-mamãe”, o caso de Anastasia Steele e Christian Grey é de deixar corado o par Bella e Edward, vivido na tela pelo agora ex-casal Kristen Stewart e Robert Pattinson. Ou de liberar os pombinhos – leia-se vampirinhos. A chegada da trilogia da britânica Erika Leonard James – que começou a escrever criando uma versão da história da americana Stephenie e se tornou um fenômeno comercial, desempenho que já repete no Brasil, onde acaba de aportar – está ajudando a colorir a vida sexual de jovens leitores. Eles se beneficiam dos ensinamentos de alcova protagonizados por Grey e Ana para tornar mais divertida a performance entre quatro paredes.

Na trilogia de E.L. James, que vendeu 20 milhões de cópias só nos Estados Unidos, a jovem Anastasia Steele é iniciada na vida sexual e também nos jogos de submissão e masoquismo por Christian Grey, um bilionário sedutor e dono da empresa onde ela trabalha como estagiária. A forma direta e quase didática que a autora usa para escrever sobre o uso de apetrechos e brinquedos eróticos, como vendas para os olhos, algemas e chicotes, tem inspirado leitores a repetir em casa as cenas de Cinquenta Tons de Cinza. “Sai o peso da culpa e da vergonha de consumir esses produtos. Muitas pessoas vão escondidas aos sex shops, parece que estão comprando drogas. Quanto mais se fala do assunto, mais natural fica”, diz Marcello Hespanhol, que trabalha no ramo erótico há 20 anos e é diretor de importação e exportação da empresa Adão e Eva, distribuidora de produtos eróticos.

Acostumada a ler romances eróticos vendidos em bancas, “daqueles bem porcaria”, a tradutora Jaqueline Gomes, de 26 anos, propôs ao namorado de dez anos virar cobaia dos experimentos sexuais que aprendeu ao ler Cinquenta Tons de Cinza. “Eu tinha vergonha de fazer certas coisas e, depois de ler o livro, fiquei mais solta. Finalmente matei minha vontade de ter os olhos vendados e ser amarrada na cama, sadomasoquismo é algo tão divertido.”

Apesar da maior desenvoltura em realizar fantasias sexuais, Jaqueline conta que ainda tem receio de visitar uma sex shop para comprar apetrechos – “Encomendei pela internet”. Receio que é bastante comum e que cresce entre os homens. De acordo com a Associação Brasileira de Empresas do Mercado Erótico (Abeme), 65% do público consumidor de sex shops é formado por mulheres e 90% dos produtos comprados são compartilhados pelo casal. Independentemente do receio sentido por eles ou por elas, o mercado erótico espera uma turbinada com o desembarque da trilogia de E.L. James.

Dica para eles – Ler o fenômeno editorial do momento instigou até moças solteiras a sonhar com futuros namorados. “Fico excitada e penso ‘Ai, meu Deus, eu quero fazer isso’. Quando tiver um namorado, vou querer experimentar tudo. O casal precisa sair da mesmice. Todo homem deveria ler para aprender que mulher precisa de preliminares no sexo. Vou dar o livro para o meu próximo parceiro”, diz a estudante cearense Rayana Pereira, de 20 anos, que é fã de Crepúsculo e leu Cinquenta Tons de Cinza em inglês, antes do lançamento da tradução brasileira.

Alguns rapazes, espertos, se anteciparam aos pedidos das namoradas e trataram de colocar as mãos num exemplar da trilogia erótica. “Eu já testei algumas coisas com minha namorada e deu certo. A relação ficou mais interessante, saiu da rotina”, diz o blogueiro Guilherme Cepeda, de 19 anos, que escreve sobre lançamentos literários na internet.

Erotismo real – Mais do que posicionar o leitor como voyeur das cenas de sexo entre Grey e Ana, o romance se tornou uma mania mundial por mostrar uma história de amor possível e sem as afetações românticas e fantasiosas dos títulos de chick lit (literatura de mulherzinha, na tradução literal), como O Diário de Bridget Jones, de Helen Fielding, Sex and the City, de Candance Bushnell, e O Diário da Princesa, de Meg Cabot.

No livro de E. L. Jones, Grey é retratado como um homem cruel, que se aproveita da ingenuidade da jovem Anastasia para satisfazer as próprias necessidades sexuais. Mesmo assim, esse vilão sedutor conquista o coração das leitoras por ser muito mais parecido com os homens da vida real do que com os príncipes encantados das comédias românticas literárias. “Ele sofreu muito quando criança, foi maltratado pela mãe, que era drogada, e por isso não gosta de ser tocado. Sinto até pena. Ele usa as mulheres para destilar sua raiva e por isso as coloca em posição submissa na hora do sexo”, justifica Jaqueline, que admite reler a trilogia escondida do namorado, que sente ciúmes do personagem.

O sofrimento vivido por Grey e sua consequente postura de vítima se encaixam perfeitamente no desejo de muitas mulheres de encontrar homens sensíveis e conectados com as suas emoções. Por isso, o chamado pornô papai-e-mamãe faz tanto sucesso, apesar das relações sexuais descritas serem bem menos picantes do que qualquer romance erótico vendido em banca. O relacionamento bem próximo da realidade de Grey e Ana funciona como um afrodisíaco que torna as cenas de sexo ainda mais interessantes para as leitoras. “O livro me prendeu por causa da necessidade de Christian de ser amado, não se vê homem passar por isso. Ele grita por socorro por dentro”, diz a estudante Rayana.

Em troca do tratamento condescendente recebido, o personagem sedutor convence as leitoras – assim como a sua cobaia sexual na história – de que o prazer feminino está em suas próprias mãos e de que cabe a elas inseri-lo nas suas relações. A lição é revolucionária para uma geração de jovens que tem o insosso namoro de Bella Swan (Kristen Stewart) e Edward (Robert Pattinson), dentro e fora de Crepúsculo, como o ideal de relacionamento.

fonte:veja

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