Examiner entrevista Alexandre Desplat

Não é todo dia que se consegue a oportunidade de falar com um nomeado ao Academy Awards, para não dizer um que recentemente recebeu dois World Soundtrack Awards. Mas acima de todos esses elogios, o compositor francês de músicas para longa-metragem é um verdadeiro artista, devotado completamente ao seu ofício. Se ele é publicamente reconhecido por seu trabalho, estão que seja. Ele aceita isso humildemente, e mantém sua mente trabalhando em qualquer projeto que esteja envolvido.
No entanto, com o lançamento da Saga Crepúsculo: Lua Nova, Desplat pode ver-se involuntariamente metamorfoseando de trabalhador para estrela de rock. Tendo entregado uma composição musical que incita imaginação e paixão em seus ouvintes, certamente muitas honras mais estão por chegar.

Ele concluiu sete trilhas sonoras este ano (Chéri, Coco Antes de Chanel, Um Prophéte, L’armée du Crime, Julie &Julia, The Fantastic Mr. Fox, e o já mencionado Lua Nova) e já tem três em produção para 2010... até agora.


Como alguém pode se concentrar em tanta carga de trabalho quando está constantemente recebendo prêmios? É aí que nossa conversa começa...

É engraçado; eu pensei que ia ficar melhor nisso enquanto me levanto para pegar qualquer prêmio que seja. Mas conforme eu olho para a platéia, e vejo pessoas como Steven Spielberg, Clint Eastwood, Robert DeNiro e Charlize Theron, fico tão impressionado e me pergunto, “O que estou fazendo aqui???”. Eu me torno muito submisso a isso e muito feliz ao mesmo tempo.

Eles (os prêmios) afetam você e sua energia criativa nos projetos que você aceita agora?

A principal coisa que deve inspirar é o filme. Isso é o que me move; é o que eu gosto; é minha vida. O resto é apenas acidente. Você recebe um prêmio ou não recebe um prêmio, quem se importa? Mas se você faz um grande filme, é fantástico, e é a maior coisa que você pode cumprir se você consegue um grande relacionamento com um diretor. Claro, a melhor parte dos prêmios é que seu nome fica mais exposto. Mas eu acredito que o corpo de trabalho que está por trás de você é mais importante. Porque se eu fizesse um mau trabalho e desse músicas ruins para os filmes, não tenho certeza de que receberia outra ligação.

Você já esteve confuso ou preocupado em receber elogios por certos projetos, quando talvez exista outro projeto o qual você sinta orgulho e que DEVERIA ser reconhecido?

Honestamente, não está realmente em minhas mãos. Eu me comprometo totalmente em cada projeto. Passo minha vida fazendo isso, com muitas horas todo dia e noite. Então eu realmente não vejo diferença, se será um filme com uma hora e meia de música, como Lua Nova, ou um filme francês como L’armée du Crime, o qual tem apenas 40 minutos de música orquestrada. Para mim, ambos têm o mesmo nível de dificuldade e desafio.

Uma das características verdadeiramente extraordinárias de suas trilhas sonoras é que quando são ouvidas, a audiência participante facilmente se perde na atmosfera que você cria. E eu acho que é graças a sua habilidade aparentemente inata de encontrar a “voz” do filme. Qual é o processo que você faz para ficar tão conectado a seus projetos? Você recebe uma cópia do filme e o vê repetidamente até o padrão emergir?

Sim, é exatamente isso. Eu tenho cópias de cada filme. Eu componho trilhas sonoras de filmes porque eu quero compô-las. Não é por acidente ou um empresa que eu sempre quis ter. Eu poderia estar vendendo sabão se eu quisesse um negócio. Eu faço porque sou fascinado pelo processo de criação de música para filmes. E tampouco quis ser um compositor de concertos. Quando eu vejo um filme, tenho uma estranha química intuitiva que me dirige. Então é incrível poder realmente ter o filme para assistir várias vezes. Algumas vezes eu encontro a trilha certa rapidamente, mas mesmo que eu encontre, escolho não ficar excitado com isso para poder explorar outros caminhos. Eu me envolvo com o filme por um longo tempo, para ter certeza de que o que eu estou lançando realmente pertença aquele filme.
É engraçado, algumas vezes quando me oferecem um filme para fazer a composição, recebo uma cópia com minhas músicas de trilhas anteriores junto. E o diretor diz, “Ah, isso funciona tão bem!” Mas eu nunca vejo isso; definitivamente não funciona. É o tom errado, a cor errada. É um novo trabalho que tenho que inventar; um novo desafio. Não são apenas melodias, é o som, a textura... é como um novo tecido que tenho que desenhar.

O que me leva a perguntar: muitas vezes você tem diversos filmes sendo lançados no mesmo ano, então como você dá a cada filme a atenção adequada, para que não haja misturas no padrão da música? Muitos compositores que pegam quantidades massivas de trabalho começam a soar quase sempre o mesmo ou despropositalmente repetem elementos estilísticos. Como você evita essa armadilha?

Bem, existem duas chaves para isso. A primeira chave é não fazer o mesmo tipo de filmes repetidamente. Se eu fosse fazer apenas histórias de amor, ou dramas, ou apenas terror, estaria compondo a mesma música, porque estaria preso em um pequeno mercado. E há apenas um pouco que você pode fazer em cada nicho de mercado. Se você olhar para o corpo do meu trabalho em qualquer ano, verá que não há nem dois tipos de filmes iguais nesse trabalho. E a segunda chave é simplesmente usar o seu cérebro três vezes mais que você usou anteriormente – esforçar cada célula do seu cérebro durante o dia e a noite para encontrar idéias e trabalhá-las com uma paixão obsessiva.

Então, como você conseguiu o projeto para a trilha de Lua Nova? Na verdade você lutou ativamente para conseguir, ou caiu no seu colo?

Eu na verdade tive muita sorte em conhecer Chris Weitz, com quem trabalhei na Bússola de Ouro. Ele me ligou e me ofereceu o filme, e eu disse, “Claro Chirs, eu adoraria trabalhar com você outra vez”. Foi uma grande experiência trabalhar com Chris. Ele ama música, fala francês, e temos um bom relacionamento.

Você escutou a composição de Carter Burwell para o primeiro filme de Crepúsculo quando aceitou o trabalho para Lua Nova?

Não, não apenas não ouvi, mas eu nem assisti ao filme. Eu não queria ser influenciado por isso. Carter é um grande compositor e eu amo suas trilhas para os Irmãos Coen. E eu sabia que se escutasse, estaria em perigo, porque eu sabia que iria gostar da música e ficaria influenciado por ela. Então apenas evitei tudo isso.

Nossa, é muito raro que a trilha sonora de um filme de desvie completamente de seu predecessor dessa maneira. Geralmente os filmes que se tornam franquias utilizam motivos recorrentes durante cada filme da série para carregar um traço de familiaridade, independente de quantos diferentes compositores estejam envolvidos.

Bem, não houve um pedido da Companhia de Produção ou de Chris para reutilizar qualquer dos temas. Eu teria feito com prazer, porque novamente, Carter é um compositor que eu respeito de verdade. E já que eu não tive que usar, não usei.

A composição de Carter era taciturna, madura, romântica. Mas a sua ganha um papel muito maior, criando esse romance proibido fundido com uma homenagem aos filmes clássicos de terror e de vampiros do passado.
Eu e Chris somos ambos cinéfilos, e nós gostamos da Noiva de Frankenstein e dos filmes de Polanski. Eu amo o Drácula de Coppola; é uma obra-prima em diversos aspectos – visualmente e na trilha sonora, que é fabulosa. Nossa decisão primária foi sobre o a história de amor ansiada, e o épico por qual os personagens passam. Maurice Jarre era a única referência que Chris deu e eu usei para esse filme. E eu na verdade dediquei essa trilha a Maurice.

Eu amei que até nos momentos mais ternos na trilha havia um senso de perigo e dificuldade, como se cada mudança te mergulhasse profundamente no desconhecido. Mesmo a faixa “Marry Me, Bella” tem um grande sentimento de apreensão.

Sim, definitivamente. Existem muitos momentos no filme em que você tem que se sentir inquieto. Ela tem que decidir entre dois homens e não sabe como tomar a decisão. Eu na verdade usei esse elemento para tornar vago os dois temas – o tema para Edward e o de Jacob. Mas eles são originados da mesma veia, então conforme você está assistindo e escutando, esta escutando o de Edward ou de Jacob? Eu adoro colocar essas pegadinhas subliminares na trilha sonora apenas por diversão.

Como você chegou à decisão de usar um elemento asiático para representar a estética tribal?

Bem, como você sabe, os Americanos Nativos descendem da Ásia, então simplesmente faz sentido para mim. Eu usei o taiko japonês como grande elemento asiático – forte e orgânico, porque é como a madeira.
Outra faixa que instantaneamente se destacou para mim foi “Wolves v. Vampire” porque é uma faixa bem selvagem. Tem algo da antiga Hollywood, a grandiloquência de Max Ateiner mesclado com a ousadia de John Williams. Realmente me faz lembrar de King Kong vs. Jurassic Park.
Ótimo! Eu posso aceitar isso. Apenas vou levar como um elogio. O que posso dizer? Você acaba de nomear os melhores compositores de trilha sonora. De Waxman a Williams, passando por Goldsmith e Hermann – eles são verdadeiros mestres desse ofício, e eu espero que algum dia eu siga seus passos. Se você escutou isso na trilha sonora, significa que eu realmente aprendi bem e demonstrei minha paixão pelas trilhas de filmes assim como por esses compositores que eu tanto admiro.
Eu encontrei John Williams uma vez no Globo de Ouro quando ele ganhou por Memórias de uma Gueixa. Eu tinha uma indicação [por Syriana], e estava envergonhado em estar lá. Como eu podia ser indicado ao mesmo tempo que John Williams? Eu fui me apresentar muito humildemente a ele, e me senti como uma criança – mal podia falar. Então você realmente acaba de me dar um grande elogio.

O prazer foi meu; eu realmente fiquei impressionada por seu trabalho nessa trilha. Agora, para a Trilha Sonora de Lua Nova você enviou uma música chamada “Te Meadow”. Essa era a faixa demo para o que se transformou no score de Lua Nova?

Não, de maneira alguma. Na verdade é a versão original para o tema de amor que escrevi para o filme. É o tema de amor em sua forma mais básica e simplificada. O score foi na verdade gravado mais ou menos um mês depois. E eu somente pensei que o solo de piano seria a melhor opção para combinar com as outras canções que estariam na trilha sonora. Eu acho que uma peça orquestral no final seria um pouco estranho ou inapropriado. Eu queria que a música tivesse um senso real de movimento e emoção.

Obviamente, você deve estar ciente de quão massiva é a base de fãs da Saga Crepúsculo, com os filmes, livros e trilhas sonoras. Isso te pressionou mais quando estava compondo a trilha?

Não houve absolutamente nenhuma pressão. Eu estava trabalhando com um bom amigo, Chris Weitz, que foi muito protetor e entusiástico com o trabalho. E eu simplesmente levei como qualquer outro projeto. Eu não pensei por um segundo que era algo gigantesco. Eu na verdade já cometi esse erro antes, pensando que o que eu iria fazer se transformaria em algo massivo, e isso realmente tira seus pensamentos do trilho e traz muita pressão. Eu acho que já amadureci um pouco.

Eu estava apenas perguntando porque a base de fãs de Crepúsculo é tão forte, que na verdade foi a responsável por levar o score de Carter do primeiro filme a sair na lista Top 100 da Billboard. E é tão raro para um score chegar a isso, sozinho vender tantas cópias.

Sim, é muito raro. E eu realmente espero que meu score e o de Carter ajudem a levar mais desse tipo de música instrumental ao público, porque a rádio é focada em poucas músicas. Houve um tempo (quando eu não estava por aqui) quando a rádio não trazia apenas canções, mas tocavam peças instrumentais, elas sendo clássicas ou jazz. E eu acho que essa é uma grande chance que temos de trazer essas músicas de volta a esse círculo novamente.


Fonte:Twilightteam

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